03 Agosto 2022
O comentário é José Manuel Vidal, publicado por Religión Digital, 02-08-2022.
Francisco está mudando a Igreja por dentro e por fora. Por fora, com seus gestos, seu estilo, sua simplicidade e sua proximidade, o que faz do Papa de Roma o líder mais valorizado e com a maior autoridade moral do mundo. Nunca antes um Papa gozou de tal estima mundial, mesmo entre crentes de outras religiões ou entre não crentes.
A mudança ad intra, por outro lado, está custando mais, muito mais. A Cúria Romana, a quintessência do aparato do Vaticano, resiste a todo tipo de mudança. Mas, além disso, o próprio Papa torna mais fácil para os inimigos da mudança minar seu trabalho, deixando de eleger muitas das pessoas chamadas a implementar as reformas.
Ou seja, Francisco acerta ao traçar as grandes linhas reformadoras da Igreja, mas falha na escolha das pessoas. Talvez porque ele subestime a capacidade hipócrita e camaleônica de muitos dos indicados. Ou talvez porque careça de informações suficientemente consistentes sobre os escolhidos.
Um caso paradigmático a este respeito é a recente remodelação do Dicastério para a Doutrina da Fé, que ainda é chefiado pelo cardeal espanhol Ladaria.
Neste dicastério, o Chefe do Gabinete da seção disciplinar que acaba de ser nomeado, Pe. Schroeder, teve de ser revogado de forma repentina pelo Secretário de Estado, porque se provou tarde que era um ultraconservador e até participou em missas do Vetus Ordo. Seu único mérito seria ser americano, como o promotor de Justiça do dicastério, padre Geisinger sj, que o teria indicado.
A isto deve ser acrescentado um secretário conservador irlandês, D. Kennedy, um pró-secretário conservador dos EUA, D. Di Noia, e um subsecretário francês recentemente nomeado, o também conservador D. Curbelié.
E a mesma coisa acontece em outros dicastérios. Por exemplo, no Clero, com um prefeito coreano muito discreto e um secretário chileno ultraconservador, D. Ferrada, formado no grupo Karadima, um padre condenado por maus-tratos.
A saída do cardeal canadense Ouellet do extremamente importante dicastério dos bispos também é tida como certa, mas teme-se que a substituição seja ainda pior do que ele.
Porque, como dizem na Cúria, o verdadeiro lobby da Cúria não é o gay, mas o anti-bergogliano, cujos numerosos membros torcem para que morra logo ou renuncie e vá para longe.
Todos esses anti-bergoglianos não acreditam nas reformas de Francisco e, como hipócritas consumados, estão esperando que Bergoglio saia do caminho para dar um novo rumo ao conservadorismo na Igreja. Nesta atmosfera curial, os fiéis às reformas do Papa têm cada vez mais dificuldades, mas perduram em silêncio, ajudando Francisco na medida do possível.
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Francisco está certo nas linhas reformistas de base, mas falha na escolha de pessoas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU